quinta-feira, 21 de março de 2013

Presciência ou predestinação?


Deus poderia controlar um universo de seres (contingentes) livres e ainda ser soberano? Ainda assim teria o controle de tudo?
Para que seja Deus soberano, precisa (Ele) controlar, no sentido de impulsionar diretamente, cada ato ou atitude e pensamento humano ou dos anjos?
Voltemos às Escrituras.
“Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus. Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco? E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado; E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem.E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade. Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade; Para o que pelo nosso evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.” (2 Tessalonicenses 2:3-14)
Em 2 Tessalonicenses 2 vemos muito claramente a presciência de Deus (At 2.23 e I Pe 1.2), do grego προγνω σις “prognosis” , para James Strong tem como tradução preconhecimento, presciência, prognóstico.

Queremos destacar, em quatro ou cinco “curtas” sobre o tema, que nos distanciamos das visões extremadas do determinismo, em que Deus planeja e executa diretamente cada ato da história, incluindo as maldades, e por outro lado da visão de um Deus espectador da história, que não decide, que apenas vê o futuro, o “Deus vidente”. Enfatizo, a predestinação bíblica não nos mostra nem uma coisa e nem outra, ou seja, nem Deus é o autor do mal e do pecado, e muitos menos faz de Deus um mero espectador da história.  Falaremos mais sobre nos próximos “curtas”.

Vamos ao texto em questão:
“E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado.”

O texto fala claramente do anti-cristo, “o filho da perdição”. E sobre o que o “detém” e “resiste”. Ambos os termos tem origem na mesma palavra grega κατε χω “katecho”, que significa impedir, deter, conter, manter amarrado. (Lc 4.42; Fm 13, é utilizada no sentido de impedir, reprimir em 2 Ts 2.6-7)
Vejamos bem, deter, reter é uma força superior em oposição a outra contrária de menor intensidade. Ou seja, pelo texto compreendemos que “o filho da perdição” (vs 3) por meio do “ministério da injustiça” que já opera (vs 7), age contrariamente contra “tudo que se chama Deus ou se adora”, “somente há um que, agora, resiste até que do meio seja tirado”. O anti-cristo está em completa rebelião contra o criador, desejando, tentando e operarando o mal contra tudo que se nomeia Deus, querendo blasfemar, sentar-se no trono, querendo parecer Deus.
Seria Deus a causa da rebelião contra Ele mesmo? Seria Deus a causa das blasfêmias? Seria Deus o idealizador e executor das mentiras? (Longe de nós tais pensamentos e crença, que é blasfêmia em si mesmo)
Quem resiste ao ministério da injustiça?
O Espírito Santo, operando na igreja, no corpo de Cristo.
O Espírito resiste, segura, prende as forças das trevas, até que tal impedimento seja tirado, por determinação Dele mesmo, de Deus, do Espírito Santo.
E as pessoas que irão perecer, na vinda do anti-cristo, foram predestinadas incondicionalmente a isto, antes da fundação do mundo?
Não, não é o que vemos no texto. Vejamos:
A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem.E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira;” 2 Ts 2.10-11
O texto é cristalino em expor o motivo porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E frise o fato E por isso,ou seja, por esta razão, por este fato, “Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade.”.(vs 11-12)
E quanto a eleição, desde a fundação do mundo do versículo 13?
Vejamos: “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade; Para o que pelo nosso evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.”
A palavra grega “elegido” é  αιρ εομ αι “haireomai” que tem como significados – aplicações, tomar para si, preferir, escolher, escolher pelo voto, eleger para governar um cargo público, também utilizada em Fl 1.22; Hb 11.25)
Retomando o texto “curtas 01”,
Deus esta fora do tempo, e conhece o resultado de todas as coisas, de todos os salvos, de todos os ligados, ao longo da história, a Cristo. Foi isto que Deus elegeu, o Filho, Cabeça e corpo (igreja), foi a noiva a escolhida na eternidade, e não indivíduos em sua individualidade, mas em Cristo somos Eleitos (Ef 1.4), é Nele que somos feitos filhos, e não em nossa individualidade.

O que significa “por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação”?
Significa  que Deus, fora do espaçoxtempo, conhece a todos os comprados e lavados pelo sangue do filho (Ap 5.9-10). Fomos comprados, tirados das trevas para a luz, comprados pelo sangue do Filho, e nunca o sangue do Filho como conseqüente de nossa escolha individual (isto é heresia), mas nós escolhidos como conseqüentes do sangue do Filho, ligados à Deus pelo sacrifício eterno.
Então, Deus conhece os que são seus. Foram conhecidos, os salvos na eternidade, (Rm 8.28-30), aprovados no sangue do Filho, eleitos segundo a eficácia da graça em seus corações.
É isto que o texto quer dizer, que Deus conhece os seus desde a eternidade. O que não implica em ter empurrado os demais, os não eleitos, os não escolhidos, à perdição eterna. Ninguém é compelido por força irresistível, nem para a salvação e nem para a perdição, significa ainda que, o conhecimento de Deus excede o tempo e o espaço, está além da capacidade humana de conhecer as coisas, não é apenas uma mera visão dos fatos, mas trata-se de uma escolha divina, não de indiviuos, mas da história sobre o fundamento eterno, a rocha eterna, sobre Cristo Jesus.
A graça e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco.
No próximo curta trataremos das definições dos termos presciência e predestinação, deixando clara as diferenças das palavras e a intríseca relação entre elas, biblicamente. Até lá.

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